Variante altamente contagiosa do HIV é encontrada circulando pela Europa
Atualizado: 7 de fev. de 2022
Os efeitos da cepa mutante são mais graves e mais transmissíveis – mas as drogas ainda são eficazes contra ela.
Uma análise de mais de 100 pessoas infectadas sugere que a variante aumenta o número de partículas virais no sangue de uma pessoa, tornando-a mais propensa a transmitir o vírus. A variante também parece levar a uma redução nas células imunes chamadas células T-CD4, de modo que as pessoas infectadas correm o risco de desenvolver aids muito mais rapidamente do que aquelas com outras versões do HIV.
O surgimento de uma forma mais contagiosa de HIV é “uma razão para ficarmos vigilantes”, mas não é uma crise de saúde pública. As mutações encontradas na nova variante não a tornam resistente aos medicamentos para o HIV existentes, diz Joel Wertheim, biólogo evolutivo e epidemiologista molecular da Universidade da Califórnia em San Diego. “Todas as ferramentas em nosso arsenal ainda devem funcionar”, diz ele.
As descobertas, publicadas na Science em 3 de fevereiro, servem como um lembrete de que os vírus nem sempre evoluem para se tornarem menos virulentos ao longo do tempo. Relatos de que infecções com a variante ômicron do SARS-CoV-2 tendem a causar sintomas leves de covid-19 alimentaram a narrativa de que o vírus está se tornando menos mortal. “Não é assim que funciona”, diz Emma Hodcroft, epidemiologista molecular da Universidade de Berna. Embora o HIV e o SARS-CoV-2 sejam diferentes em muitos aspectos, “não é certo que o SARS-CoV-2 se tornará mais leve”, diz Hodcroft.
Estirpe de rápida propagação

O HIV é um dos vírus de mutação mais rápida já estudados – as versões do vírus variam de pessoa para pessoa e às vezes até em um único indivíduo. Pesquisas anteriores documentaram mudanças na virulência geral do HIV, mas essas mudanças geralmente são resultado de muitas cepas adquirirem mutações diferentes. O estudo da Science é um exemplo impressionante de como as mudanças na virulência podem ser causadas por várias mutações em uma única cepa de HIV, diz Wertheim.
Em comparação com pessoas infectadas com outras cepas de HIV, aquelas infectadas com a nova variante tinham até 5,5 vezes mais vírus no sangue, e suas células T-CD4 diminuíram quase duas vezes mais rápido. Uma queda nas células T-CD4, que ajudam a coordenar a resposta imune do corpo às infecções, é um sinal revelador de que o HIV danificou o sistema imunológico.
Os pesquisadores estimam que, sem tratamento, as pessoas infectadas com essa variante desenvolveriam aids dentro de 2 a 3 anos após o diagnóstico, em comparação com 6 a 7 anos para as pessoas infectadas com outras cepas de HIV.
Usando sequências genômicas, os pesquisadores traçaram relações evolutivas entre as variantes do HIV para determinar a rapidez com que o vírus se espalhou. As pessoas infectadas com a variante recém-descoberta compartilharam versões intimamente relacionadas do vírus, o que sugere que a variante se move de pessoa para pessoa rapidamente, diz o principal autor do estudo, Chris Wymant, epidemiologista evolutivo da Universidade de Oxford, Reino Unido.
Wymant e seus colegas estimam que a variante surgiu na década de 1990 na Holanda e se espalhou rapidamente durante a década de 2000. Sua circulação vem diminuindo desde cerca de 2010 – provavelmente como resultado dos esforços do país para conter a transmissão do HIV, diz Wymant. Descobriu-se que duas pessoas em outros países tinham a variante – uma na Suíça e outra na Bélgica – mas até agora nenhum caso foi identificado em outros lugares.
“Não estamos muito preocupados com essa nova variante”, diz Meg Doherty, diretora dos Programas Globais de HIV, Hepatite e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Organização Mundial da Saúde. Mas as descobertas da equipe ressaltam a necessidade de preparação e vigilância para pandemias para detectar, caracterizar e responder a novas versões de patógenos, acrescenta ela.
O estudo destaca a importância dos serviços generalizados de testagem e tratamento do HIV, diz Salim Abdool Karim, diretor do Centro para o Programa de Pesquisa da Aids na África do Sul, com sede em Durban. “É fundamental identificar rapidamente as pessoas infectadas e iniciar o tratamento precocemente, porque os tratamentos funcionam bem, mesmo contra essa variante”, diz ele.
doi: https://doi.org/10.1038/d41586-022-00317-x
FONTE E REFERÊNCIA
1. GUGLIELMI, Giorgia | NATURE: Highly virulent HIV variant found circulating in Europe. Fev/2022. Disponível aqui.
2. WYMANT, Chris et al: Uma variante altamente virulenta do HIV-1 circulando na Holanda. Fev/2022. Vol 375 , Edição 6580 • pp. 540 - 545 •DOI: 10.1126/science.abk1688. Disponível aqui.